Tribunal proíbe treinamento de toureiros infantis no Peru

Tribunal proíbe treinamento de toureiros infantis no Peru
Antes da pandemia, havia cerca de 540 touradas por ano no Peru. Lino Chipana/Arquivo

O Segundo Tribunal Constitucional de Lima decidiu em primeira instância a favor da proibição do treinamento de toureiros mirins e de sua participação em touradas no Peru. A decisão foi tomada após um processo de quase quatro anos, e conforme uma recomendação emitida pelas Nações Unidas.

Após a decisão, ativistas antitouradas celebraram na sexta-feira, 17 de setembro. “É importante que as instituições peruanas ratifiquem que esses programas são violentos, ninguém supervisiona esses eventos onde as crianças são expostas, até mesmo concursos são realizados com elas”, disse Kelly Maguiña, contadora e ativista do grupo Acho sin Toros, à Associated Press.

A decisão do Tribunal de Lima, informada na véspera, declarou fundamentar a ação movida por ativistas em 2017 e também determinou que o governo fiscalizasse as touradas para verificar se há “qualquer tipo de exploração do trabalho infantil” e que iniciasse projetos para evitar o ensino com “conteúdos violentos” que prejudicam o desenvolvimento das crianças.

Entretanto, o juiz constitucional, Jonathan Valencia, declarou infundada uma parte da ação judicial que procurava proibir a entrada em touradas.

Jorge Flores, do grupo antitouradas Perú Antitaurino, disse que a decisão é “incompleta” porque as crianças podem assistir aos eventos, que ele qualificou como “tortura”.

Os ativistas apresentaram uma liminar solicitando que o Peru cumprisse uma recomendação do Comitê dos Direitos da Criança das Nações Unidas ao Peru, que pedia a proibição do treinamento de crianças como toureiros e sua participação em touradas porque as expõe a possíveis acidentes e a “extrema violência das touradas”.

A decisão foi saudada com desagrado por aqueles a favor das touradas. Fernando Rubio, da Escola de Toureio de Lima, disse ao jornal El Comercio que as crianças são treinadas como toureiros com a autorização de seus pais e que no início elas lutam com bezerros.

Essa sentença de primeira instância foi objeto de recurso pelos procuradores MIMP e MTPE, entidades réus. Espera-se que uma Câmara Constitucional em Lima analise o caso e decida.

Sobre as touradas no Peru

Os adeptos das touradas são abundantes no Peru, especialmente na Cordilheira dos Andes. O costume começou com a chegada dos espanhóis no século XVI.

Antes da pandemia, havia cerca de 540 touradas por ano no Peru, o número mais alto da América Latina, segundo a Agenda Taurina, o maior guia de touradas do país.

Os defensores dos animais acreditam que a tourada, juntamente com a rinha de galos, é na verdade uma crueldade anacrônica em uma época em que os animais também têm direitos.

Tradução de Ana Carolina Figueiredo

Fonte: Perú 21


Nota do Olhar Animal: A proibição de toureiros mirins está longe de solucionar a questão da violência contra os touros, algo que só a total proibição das touradas possibilita. Mas, apesar de em suas casas as crianças continuarem a ser educadas para verem com naturalidade o massacre de animais, talvez o veto à formação de novos toureiros infantis colabore um pouco para interromper o ciclo de violência.

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