Abrigo São Lázaro acolhe animais vítimas de maus-tratos em Fortaleza; conheça algumas histórias

Abrigo São Lázaro acolhe animais vítimas de maus-tratos em Fortaleza; conheça algumas histórias
Mesmo após se recuperar, a dócil Renesmee continua dormindo junto com a família que administra o abrigo. — Foto: Fabiane de Paula / Sistema Verdes Mares

É difícil passar pela calçada do Abrigo São Lázaro, em Fortaleza, e não ouvir o forte latido dos cachorros que o projeto cuida, em tempo integral, há 26 anos. Lá dentro, os cães resgatados recebem atenção dos organizadores e voluntários que se empenham em dar vida digna às vítimas de maus-tratos e abandono. São de diversos tamanhos, raças e idades, mas que merecem um único tratamento: amor.

A partir do momento em que os cachorros chegam “ninguém vai bater, ninguém vai humilhá-los. Eles vão ser felizes”. A garantia é da presidente do São Lázaro, Rosane Dantas. “Assim como Renesmee é feliz e em breve estará pronta para adoção”. Ela se refere à cadela da raça husky, que recebeu o nome de personagem da saga “Crepúsculo” quando chegou ferida ao abrigo.

Atualmente bem peluda e dócil, Renesmee chegou machucada, com feridas na pele e de comportamento antissocial. Os voluntários contam que o antigo dono agrediu e abandonou a cadela por pensar que ela estava com calazar. Por conta do medo que tinha de conviver com outros cachorros, Renesmee passou a dormir na casa de Rosane, que mora em cima do abrigo, e agora é xodó da família, mesmo que o destino esperado seja a adoção.

Quando chegam ao abrigo, os animais passam por um atendimento veterinário financiado por doadores ou de iniciativas da Prefeitura de Fortaleza, como o Vetmóvel, para castração e tratamento médico. Em seguida, ações no próprio abrigo e feiras de adoção são organizadas para dar um novo lar aos cães.

Uma barreira, contudo, é o “padrão para adoção” que se cria entre as pessoas, como analisa Rosane. Ela conta que a preferência é por filhotes e, com isso, os mais velhos ou os que possuem alguma deficiência permanecem no abrigo. Esse é o caso do Branco, mistura entre pitbull e dálmata. Ele recebeu cedo o diagnóstico de surdez e há três anos está no abrigo.

Branco não precisa de uma atenção especial por conta da surdez e convive tranquilo com os outros animais. — Foto: Fabiane de Paula / Sistema Verdes

Mares

Nessa condição, a possibilidade do animal ser adotado é pequena, mas, com uma ajuda especial, ele continua recebendo a atenção necessária para o seu bem-estar. Branco faz parte do sistema de apadrinhamento e ganha uma ajuda financeira todos os meses para manter a saúde e alimentação.

Se uma pessoa “quer ajudar aquele animalzinho, pode dar um valor, comprar ração, levar ao veterinário, para passar um final de semana, pode levar para a praia”, explica a presidente do abrigo. Há quem contribua no cotidiano do abrigo com banho, alimentação e tratamento dos cães. Entre os oito voluntários, Reginaldo Vieira faz o acompanhamento dos animais de grande porte, sendo um dos únicos no abrigo a conseguir lidar com os mais agitados. O pitbull Apolo, por exemplo, quando vê o vigilante chegar exige sua atenção toda para si.

Apolo perde qualquer interpretação de ser bravo quando vê chegar o voluntário Reginaldo. — Foto: Fabiane de Paula / Sistema Verdes Mares

Vindo de um lugar onde era colocado para brigar com outros cães, Apolo apresenta um comportamento agressivo com outros animais até hoje. Com seu tutor preferido, porém, ele é só carinho. Entre os brinquedos, o pitbull pula e se esfrega em Reginaldo esperando um afago, os banhos frequentes ou o passeio.

Por ficar em um espaço separado, Apolo ganha caminhadas com Reginaldo para se exercitar. Sobre o trabalho, o vigilante diz que “enquanto der, estará fazendo”. “Os animais precisam tanto da gente, quanto a gente deles. Eu sou voluntário desde que o abrigo veio para cá. Através de uma amiga eu passei a frequentar e até hoje eu estou aqui”, lembra o vigilante.

Trabalho de família

Iniciativa do avô de Rosane, o Abrigo São Lázaro surgiu em 1993 como uma forma de cuidar dos animais em situação de rua na própria casa. Há 12 anos, a atual presidente também passou a morar no mesmo terreno onde realiza os cuidados com os muitos animais, e continua envolvendo a família na iniciativa.

Rosane disse que abdica de muito por entender que os animais precisam de seus cuidados. — Foto: Fabiane de Paula / Sistema Verdes Mares

O filho de Rosane, Williame Cheuton, acorda cedo para ajudar com a limpeza, a primeira alimentação e os cuidados veterinários. Afirma que para realizar o trabalho no abrigo é preciso “ter cabeça”, por conta do sofrimento que alguns animais passam antes de chegar ao projeto. “É ruim ver as pessoas fazendo isso com os animais. Dá uma certa raiva, mas temos que levar”, afirma.

Punição

Quem maltrata um animal pode receber multa e detenção de até dois anos, explica Cinthia Belino, vice-presidente da Comissão de Defesa dos Direitos dos Animais da OAB Ceará. “É preciso que a população tenha conhecimento que a lei é efetiva”, destaca. Ela explica que a denúncia deve ser feita por meio de um Boletim de Ocorrência, preferencialmente na Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA). Na Comissão, o objetivo é realizar ações de educação e prevenção de maus-tratos com palestras em escolas, condomínios, shoppings e distribuição de cartilhas.

Nas redes sociais, o grupo encontra instrumento para divulgar informações importantes sobre a causa animal. Cinthia reflete que essas ações são importantes, mas que o ideal é que não tenham animais abandonados na rua. “Eu acho importante conscientizar as pessoas que o abrigo tem de ser uma coisa passageira. Esses animais precisam ser adotados”, conclui.

Serviço

Para o funcionamento do Abrigo São Lázaro, a organização conta com o apoio financeiro de apoiadores da causa animal. Os gastos com alimentação, saúde e castração dos animais são cobertos com doações. Mais informações: (85) 9 8626-4775 ou www.abrigosaolazaro.org.

Por Lucas Falconery

Fonte: G1 

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