Caçador que matou gorila raro em Uganda é sentenciado a 11 anos de prisão

Caçador que matou gorila raro em Uganda é sentenciado a 11 anos de prisão
Um gorila adulto na floresta do Parque Nacional Bwindi, em Uganda. Crédito: Stuart Price/Getty Images

Em uma decisão histórica, um homem foi sentenciado a 11 anos de prisão em Uganda após confessar ter matado um raro gorila de dorso prateado em junho.

Felix Byamukama, um caçador ilegal da cidade de Kisoro, se declarou culpado por ter esfaqueado um gorila até a morte em um parque nacional. Ele voltou atrás em sua alegação anterior de que ele havia matado o animal em legítima defesa depois de ter sido atacado. É a primeira vez que alguém em Uganda vai para a cadeia por caçar uma espécie ameaçada.

Guardas florestais encontraram o corpo mutilado do gorila — chamado Rafiki, cujo termo em suaíli significa “amigo” — no Parque Nacional Impenetrável de Bwindi, no início de junho, irritando conservacionistas ao redor do mundo. Rafiki era o líder de uma família de 17 gorilas que viviam na reserva nacional.

Dias depois, Byamukama foi encontrado na posse de uma lança e armadilhas. Ele foi preso juntamente com outros três caçadores. Um tribunal o condenou por três acusações na última sexta-feira (31) pelo ato, bem como por matar um antílope duiker. Os outros três caçadores negaram as acusações e foram detidos novamente na prisão de Kisoro, onde aguardam julgamento.

A caça furtiva de gorilas das montanhas acarreta penalidades severas, pois restam apenas 1.000 no mundo, e metade dessa população está em Uganda. Organizações ambientais em Uganda comemoraram a decisão história do tribunal na sexta-feira. 

“Estamos aliviados que Rafiki tenha recebido justiça, e isso deve servir de exemplo para outras pessoas que matam animais selvagens”, disse Mwandha Sam Mwandha, diretor executivo da Autoridade de Vida Selvagem de Uganda, em comunicado. “Se alguém mata animais selvagens, todos perdemos.”

Mwandha está certo ao falar disso. A perda de biodiversidade representa uma ameaça existencial para a humanidade, e a caça furtiva desempenha um papel nela.

No entanto, a Autoridade de Vida Selvagem de Uganda disse recentemente à National Geographic que a caça ilegal no país dobrou no mês passado em meio à pandemia de COVID-19. 

Isso se deve ao fato de a paralisação de parques ter facilitado o acesso de caçadores ilegais. Mas não é só isso: a queda no turismo e outras consequências da pandemia de COVID-19 levaram ao aumento da insegurança econômica, e a caça furtiva é uma indústria lucrativa.

O grupo disse que a maioria dos caçadores são nativos que estão se esforçando para alimentar suas famílias. Além disso, o dinheiro para financiar os esforços contra a caça furtiva vem do turismo. É um problema que está ocorrendo em outros locais com outros grandes animais carismáticos que também são alvos desse crime, como os rinocerontes.

Então, sim, definitivamente é péssimo matar um gorila em perigo de extinção, e certamente faz sentido para os conservacionistas quererem estabelecer um precedente para impedir que outros caçadores façam o mesmo. Mas prender as pessoas é a resposta, principalmente se essas pessoas têm poucas opções econômicas? Não tenho certeza.

Talvez Uganda pudesse contar com alguma ajuda internacional para o trabalho de combate à caça furtiva, para que o financiamento não estivesse vinculado ao turismo. Ou melhor ainda, os líderes mundiais poderiam fazer mais para garantir que as pessoas em Uganda não sejam forçadas ao desespero econômico que aumenta o interesse pela caça furtiva, em primeiro lugar.

Enquanto estamos nisso, também podemos tomar medidas para impedir a destruição global de habitats, preservando os recursos naturais e controlando a crise climática. Parece que isso ajudaria mais a proteger espécies ameaçadas do que ficar prendendo pessoas.

Bom, essa é só minha opinião. De qualquer maneira, descanse em paz, Rafiki.

Por Dharna Noor

Fonte: Gizmodo


Nota do Olhar Animal: A legislação em todo o mundo é bastante especista no que se refere à (supostamente) defender os interesses dos animais. Protege os “raros”, mas é bem mais flexível em relação aos danos causados aos outros animais, mesmo estes sendo tão sencientes e passíveis de sofrimento como os “raros”, dando permissão para todo tipo de exploração.

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