Sem castração e abandonados: DF vive superpopulação de animais de rua

Sem castração e abandonados: DF vive superpopulação de animais de rua
Gustavo Moreno/Metrópoles

Protetores de animais têm enfrentado uma verdadeira saga para tentar cuidar de cães e gatos de rua do Distrito Federal. Com o abandono desses pets aumentando exponencialmente durante a pandemia, ficou praticamente impossível controlar a população e garantir abrigo para todos.

O trabalho é comumente chamado de tentativa de “enxugar gelo”, brinca o empresário Gleison Willy, 45 anos, que comanda o projeto Ração Social. Ele é responsável por doar cerca de 500 quilos de comida por mês a outros protetores de animais, além de buscar a castração do maior número de cães e gatos possível em todo o DF.

Um dos locais onde ele tem mais trabalho é na Estrutural. Há 6 anos atuando na cidade, Gleison conta que existem algumas características que dificultam o controle de natalidade dos bichos. “Os animais aqui dão muito passeio e é natural ter gravidez indesejada. Fora que muitas pessoas não têm acesso à internet e não conseguem marcar a castração oferecida pelo Ibram [Brasília Ambiental]“, comenta.

Na tentativa de concentrar os animais em um ponto, o empresário fez um comedouro e um bebedouro no terminal de ônibus da cidade. “Os que mais aparecem aqui eu pego e boto para castrar, na medida do possível. Tem uma aqui, a Caramelo, que a gente fez o procedimento essa semana e está aqui de volta”, destaca.

O veterinário Luiz Alberto de Andrade é quem realiza as operações. Ele conta que nos últimos anos, principalmente por causa da pandemia, o abandono de animais aumentou muito. “Quem tinha animal acabou largando após começar a ter dificuldades financeiras, e quem não tinha e adotou para ter companhia largou quando voltou a ter rotina normal”, afirma.

São quase 20 castrações por semana. “A gente tem que esperar pelo menos os seis meses de vida e isso acaba representando, às vezes, um cio já. Nosso trabalho é fazer da forma menos invasiva possível, para que no dia seguinte a gente possa liberá-los”, conta.

A mesma realidade é enfrentada pelo motorista de ônibus Ildemar Ribeiro, 54. Há cinco anos, ele usa os momentos de folga no terminal da empresa onde trabalha, no Setor de Indústria de Ceilândia, para cuidar de cães e gatos da região. “Faço como voluntário mesmo. Compro ração, dou remédio. Até na minha folga eu venho aqui só para cuidar deles”, diz.

Ele conta ter a sensação do aumento do número de cães e gatos abandonados também por causa do trabalho que faz. “Acho que o pessoal aproveita. Vê que eu cuido e joga aqui mesmo”, lamenta.

Por não morar no local, ele deixa os animais com moradores de barracos próximos. A estudante Vitória Lima, 17, é uma das que cuidam dos bichos e relata uma rotina de violações de direitos. “Eu vejo quase todo dia gente abandonando os cachorros na rodovia. Já vi pessoa que bateu no cachorro para descer do carro”, detalha.

São mais de 20 animais entre os barracos, mas Vitória diz que continua fazendo os resgates. “Fico com muita pena”, conta.

No Caub I, localizado no Riacho Fundo II, Francisco Feitosa, 59, fez até o que ele chama de “mansão” para os cachorros que cuida. “Fiz essa casa depois que a minha primeira cadela, a Aysha, foi roubada há dois anos. Desde então, tenho esses cinco aqui e faço comida, dou ração, boto água, lavo com água sanitária”, comenta.

Dono de uma Fiorino, ele trabalha em conjunto com outros protetores para pegar os animais que estão na rua. Além disso, faz casinhas de graça para quem procurá-lo. “É só chegar com as tábuas para mim e tudo mais que eu faço. Tenho as ferramentas para isso.”

Conforme explica a advogada especialista em direito animal, Ana Paula Vasconcelos, o abandono de animais é crime ambiental. “Quando se trata de cães e gatos a pena é de 2 a 5 anos, além do pagamento de multa”, destaca.

Ela lembra, no entanto, a necessidade de que seja realizada a ocorrência policial para que os envolvidos possam ser responsabilizados. “Quem presenciar tem de ir à delegacia e dar o maior número de detalhes possível. Aí o criminoso será identificado e punido”, pontua.

Como ajudar

Interessados em ajudar os protetores mencionados na reportagem podem entrar em contato com Gleison pelo Instagram no @gleisonwillyprotetor ou @racaosocialdf. Ildemar pode ser contatado pelo número (61) 99260-2015.

Já Francisco está disponível no (61) 99106-0588 e pede ajuda também para encontrar a cadela roubada dele.

O que diz o Brasília Ambiental

Procurado, o Instituto Brasília Ambiental disse que “faz, de forma periódica, campanhas de castração de cães e gatos no Distrito Federal, lançando inscrições para toda a sociedade. O instituto também promove, de forma contínua, o programa de castração para protetores e ONGs, no qual pessoas físicas e jurídicas apresentam proposta de parceria e indicam mais de 10 animais para a castração dentro do programa”.

A nota enviada à reportagem ressalta ainda que, “em 2021, das 10.331 castrações feitas, aproximadamente 37% foram destinadas para os protetores individuais e ONGs, ou seja, quase 4 mil vagas”.

Com relação ao público de baixa renda, o Brasília Ambiental afirma que “já está em estudo a destinação de vagas para os cadastrados no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico)”.

Por fim, o instituto reforça que “para este ano, estão programadas campanhas presenciais, com distribuição de senhas, que facilitará para aqueles que não possuem acesso à internet. O Brasília Ambiental acompanha a situação do aumento dos casos de Covid-19 para fixar uma possível data da campanha presencial, tendo em vista a grande aglomeração que as ações como essa causam entre os interessados”.

Por Matheus Garzon

Fonte: Metrópoles

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