Mais da metade dos shih tzu resgatados pela PRF na Bahia não resistiram aos maus-tratos

Mais da metade dos shih tzu resgatados pela PRF na Bahia não resistiram aos maus-tratos
Foto: Nara Gentil/CORREIO

Dos 66 filhotes da raça shih tzu  que foram resgatados em condições de maus tratos pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) no último dia 29, pelo menos 36 não resistiram e morreram. Só nas últimas 48h foram 8 novas mortes entre os animais. No total, quatro animais morreram na mão de comerciantes, dois morreram internados em Itaberaba, sete em Juazeiro e 15 em Salvador. Outros nove animais não foram localizados para resgate e o restante continua internado em tratamento na capital. As informações são do Instituto Patruska Barreiro, que há 25 anos trabalha em prol da causa animal e foi chamado pela PRF para tomar conta dos filhotes. 

Ainda segundo Patruska Barreiro, responsável pela instituição que leva seu nome, acredita-se, em razão das condições em que os animais foram resgatados, que os nove cães que não encontrados também já tenham falecido. Logo depois da apreensão, 36 cachorros chegaram a ser entregues a compradores – empresários donos de Pet Shops – mas o Ministério Público da Bahia (MPBA) orientou a devolução dos shih tzu em razão da violação da lei de crimes ambientais. 

Ao que tudo indica, outros animais podem estar sendo vendidos ilegalmente pela mesma rota. Na última semana, mais quatro shih tzus foram resgatados na cidade de Feira de Santana. “Em 25 anos protegendo animais essa é a maior apreensão que eu acompanho. Na sexta-feira houve denúncia de mais filhotes em Feira de Santana, que devem vir da mesma rota de comércio ilegal. Eu fui buscar mais quatro filhotes. O estado desses filhotes dá vontade de sentar no chão com eles no colo e chorar, mas eu preciso controlar o emocional nessas horas porque precisamos fazer com que esses crimes sejam registrados e a justiça seja feita”, relata  Patruska Barreiro.

Maus tratos 

Do total de filhotes resgatados na operação do último mês, quase 60% não conseguiram sobreviver e morreram com diagnóstico de Parvovirose ou de Cinomose . Para especialistas, as condições de transporte e a completa inobservância de cuidados básicos com os animais acaba levando ao elevado número de óbitos, mesmo depois do atendimento médico. “Quando esses animais nascem, o sistema imune deles está desprovido de defesa. Então, o estado como eles foram transportados gera um estresse, o fato de terem sido muito precocemente retirados de perto da mãe, tudo isso deu mais vulnerabilidade a eles, que não devem nem ter se alimentado. Isso tudo vai impactando um sistema imune que já não é eficiente”, explica uma das responsáveis pelo atendimento aos filhotes, a médica veterinária e doutora em ciências veterinárias Larissa Duarte.

Outro ponto que pode ter contribuído para a fragilidade dos cachorros diz respeito aos cuidados que podem não estar sendo tomados com suas mães. “Diante de uma alta mortalidade como essa, a gente também desconfia que a qualidade do aleitamento desses animais, em virtude de condições provavelmente muito ruins que as mães estavam, não é boa. O leite é o que protege o filhote antes da vacinação, é o que protege o animal temporariamente até que eles sejam vacinados”, explica Larissa. 

A retirada de filhotes de perto da mãe, segundo a médica veterinária não pode ocorrer até depois de completadas seis semanas de vida, período em que também são iniciadas as vacinas para as duas doenças que vitimaram os cães resgatados. Este é inclusive um dos cuidados a se observar no momento de transportar animais filhotes em viagens. A suspeita é que os shih tzu apreendidos foram retirados de perto da mãe antes mesmo de completar um mês de vida. 

Além disso, é preciso garantir espaço mínimo ao animal – a caixa de transporte é individual – e estar atento durante o trajeto. “O ideal é que a cada duas ou três horas o condutor pare e veja como está o animal. Isso com certeza não aconteceu com esses, que estavam aglomerados. Uma caixa que tem espaço para um cão estava com quatro ou cinco animais”, destaca o médico veterinário e conselheiro do Conselho Regional de Medicina Veterinária da Bahia (CRMV- BA), João Maurício Andrade.

Doenças infecciosas 

Sobre as doenças que acabaram vitimando os cachorros, os médicos explicam que são doenças com alta taxa de letalidade principalmente em filhotes, por conta, justamente, da fragilidade do sistema imunológico. “São doenças virais que não têm tratamento específico, um medicamento específico e acaba variando muito da resistência do animal. É um vírus, como o coronavírus para humanos. Tem gente que pega o vírus e não desenvolve a forma mais grave da doença. Vai ser a mesma coisas com os animais para essas doenças, mas os filhotes são grupo de risco”, explica Andrade. 

Segundo os especialistas, a parvovirose é uma doença hemorrágica, no intestino, que acomete principalmente animais jovens que não foram vacinados ou que ainda não atingiram o momento da vacinação “Por serem muito jovens, a doença para eles ocorre de uma forma muito mais severa”, diz Larissa. Já a cinomose causa sequelas neurológicas nos filhotes atrapalhando inclusive a locomoção.  

“Os animais já vieram infectados. As doenças já estavam agindo a um tempo e às vezes o tratamento entra de uma forma muito tardia. São dois vírus muito agressivos para os filhotes, e a possibilidade de escapar já não é tão alta. Em animais que tem um histórico de estresse e com um sistema imune debilitado, fica ainda mais difícil de salvar”, comenta Duarte. 

A médica faz, ainda, um apelo para aqueles que querem comprar cães de uma determinada raça.  “É preciso chamar atenção para essa compra de animais de raça. São animais que muitas vezes vem de criadouros ilegais em que as condições básicas de saúde e sanitárias não são respeitadas. Não é que você não possa comprar o animal de uma raça que você deseja, mas se for essa a escolha, procure um lugar reconhecido”, detalha ela. Segundo Larissa, o preço de um shih tzu pode variar de R$ 1.300 a R$ 1.600 já que custos com os cuidados logo após o nascimento acabam incluídos no valor. 

“Quando eu compro um animal desse por R$ 300 significa que alguma coisa não está dentro da normalidade, que o criatório não tem certificado, e não observa os cuidados básicos para proteger o animal. Canis que tem animais infectados com esses vírus que a gente identificou nos filhotes não seguem protocolos sanitários mínimos que protegem os animais de infecções”, finaliza ela.  

Por Gabriel Amorim, com orientação da subeditora Clarissa Pacheco 

Fonte: Correio 24 Horas 

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