Relatório revela realidade assustadora das fazendas de animais selvagens
Doenças, desnutrição, comportamentos induzidos pelo estresse, lesões, feridas infectadas e canibalismo. Estas são algumas das condições documentadas e que colocam em evidência o novo relatório da World Animal Protection sobre as fazendas de animais selvagens que são abundantes em todo o mundo.
Criação comercial da fauna silvestre
A criação de animais selvagens envolve a reprodução e criação desses animais para fins comerciais, como a venda de animais vivos ou suas partes com fins lucrativos.
5,5 bilhões de animais selvagens são mantidos em condições cruéis em fazendas de animais silvestres em todo o mundo para satisfazer a demanda.
Este é o cálculo do relatório “Criados para Lucrar: A verdade sobre a criação comercial da fauna selvagem em todo o mundo”, que revela pela primeira vez a grande escala desta indústria em que bilhões de animais selvagens são criados para serem explorados e comercializados como: animais de estimação, entretenimento e atrações turísticas, decoração, alimentação, artigos de luxo, moda e medicina tradicional.
Fazendas de animais selvagens: uma indústria sem transparência
Os investigadores descobriram uma impressionante falta de transparência e supervisão inadequada nesta indústria global multibilionária, onde os animais sencientes são tratados como meros componentes de uma linha de produção cruel.
Através de uma longa história de trabalho em muitas destas indústrias exploradoras, a World Animal Protection sabe que um grande número de animais selvagens sofre de desnutrição, doenças, comportamento induzido por stress, lesões, feridas infectadas e até canibalismo.
O relatório, compilado a partir de pedidos de liberdade de informação e outras pesquisas, também detalha como o grande número de animais que vivem em condições superlotadas e insalubres coloca os seus tratadores e o público em risco de doenças zoonóticas, potencialmente de proporções pandêmicas.
Os nossos investigadores descobriram que a manutenção de registos na indústria da criação de animais selvagens é deficiente, com muitos dados escondidos da vista do público e os governos interessados em fugir da responsabilidade.
A criação comercial de animais selvagens não contribui com os esforços de conservação
A nossa investigação encontrou muito poucas provas que apoiem as afirmações de alguns conservacionistas de que os programas de reprodução satisfazem a procura de produtos selvagens e reduzem a pressão sobre as populações selvagens.
Surpreendentemente, algumas populações de vida selvagem em cativeiro são agora maiores do que aquelas que vivem na natureza.
Os estudos de caso do relatório detalham algumas das indústrias onde são necessárias ações urgentes, incluindo:
- Criação de ursos na China: onde cerca de 20.000 ursos são criados para obter a sua bile em dezenas de fazendas para satisfazer a procura da indústria chinesa de bile de urso estimada em bilhões de dólares.
- Criação de elefantes na Tailândia: onde a maioria dos quase 3.000 elefantes são criados em cativeiro e utilizados em 246 locais para turismo, gerando entre 581 e 770 milhões de dólares por ano. Entre 2010 e 2020, o número de locais para elefantes aumentou alarmantes 134%.
- Criação de leões e outros grandes felinos na África do Sul: onde aproximadamente 8.000 grandes felinos são criados em 366 instalações conhecidas e utilizados para múltiplos fins numa indústria de 43 milhões de dólares, incluindo entretenimento turístico, caça de troféus e exportação de partes de corpos para a Ásia para medicina tradicional.
Campanha para lutar contra a criação de animais selvagens com fins lucrativos
Com a divulgação deste relatório, a World Animal Protection também lança a campanha “Vida Selvagem. Sem Lucros” para lutar contra a cruel criação e exploração de animais selvagens com fins lucrativos em todo o mundo.
Nick Stewart, Diretor de Campanha da Vida Selvagem da World Animal Protection, diz:
“Seja para a indústria de animais de estimação, caça de troféus, entretenimento, medicina tradicional, decoração ou moda, a cruel criação de vida selvagem deve acabar agora”.
“Os animais selvagens têm direito à vida em seus habitats naturais. Os governos, o sector privado e nós, como consumidores, devemos dar prioridade aos esforços para garantir que a vida selvagem seja protegida nos seus habitats naturais”.
“O público também deve ser protegido da ameaça muito real de zoonoses provenientes de fazendas de vida selvagem”.
“Esta deve ser a última geração de animais selvagens criados com fins lucrativos. A vida selvagem não é nossa para ser explorada, e todos nós podemos desempenhar um papel na proteção dos animais da cruel exploração comercial”.
Sobre o papel que os governos de todo o mundo devem desempenhar para acabar com esta cruel indústria de criação de animais em cativeiro, Stuart acrescenta:
“Pedimos aos governos de todo o mundo que tomem medidas imediatas, implementando uma eliminação abrangente e oportuna das explorações comerciais de vida selvagem e do comércio associado”.
“Além disso, apelamos a um maior apoio para meios de subsistência alternativos para as comunidades atualmente envolvidas na indústria da criação de animais selvagens, para garantir uma transição justa para longe destas práticas”.
Tradução de Alice Wehrle Gomide
Fonte: World Animal Protection